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Por que o visual da temporada final de X-Men: A Série Animada é tão diferente?

Estreando em 31 de outubro de 1992, X-Men: A Série Animada tornou-se um elemento essencial da FOX Network na televisão infantil nos anos 90. O show atraiu um público mais velho, até mesmo servindo como uma influência direta na série de filmes dos X-Men dos anos 2000. Os fãs de quadrinhos também foram receptivos com a série, já que a mesma cotinha uma grande fidelidade ao material original.


O senso de design do programa foi diretamente influenciado pelos quadrinhos dos X-Men do início dos anos 1990 desenhados por Jim Lee. Por um breve período, a Marvel não ficou muito satisfeita com os animadores homenageando Jim Lee, provavelmente porque o artista havia recentemente deixado a empresa pela editora rival, a Image Comics. Ainda assim, os produtores venceram a batalha, e o programa tentou replicar o visual altamente detalhado de Jim Lee dentro dos limites de um orçamento de TV de sábado de manhã. Os resultados foram inconsistentes, já que o estúdio estrangeiro AKOM frequentemente se esforçava para animar os designs mais complicados.

A produtora Saban, que era a responsável pela série, achava que a AKOM era capaz de fazer um trabalho aceitável dentro dos limites do orçamento da série. Curiosamente, os produtores de Batman: A Série Animada consideraram a AKOM como o estúdio mais fraco para a série do morcego. O orçamento para os X-Men, no entanto, deixou a AKOM como seu principal estúdio de animação.


Frank Squillace, um animador do programa, falou no passado sobre os problemas de orçamento da série. Em uma entrevista arquivada no Popgeeks, Squillace comparou o trabalho em X-Men com outros programas, como Batman: A Série Animada e a série posterior do mutantes, X-Men Evolution:

Basicamente, sem entrar em detalhes, tínhamos apenas metade do orçamento de Batman e X-Men: Evolution. Os dois tiveram muito mais tempo para fazer trabalhos melhores, mas acho que, no final das contas, éramos tão bons quanto eles.

Mesmo que os animadores estrangeiros muitas vezes não pudessem corresponder à ambição dos designers americanos, X-Men: A Série Animada tinha um visual particular. Um elemento que os produtores usaram para compensar alguns problemas foi gerar designs de fundo intrincados, muitas vezes mais complexos do que aqueles que os fãs estavam acostumados a ver em uma série mensal da Marvel. 


Mas há outra questão abordada pelos autores, o showrunner Eric Lewald e sua esposa Julia Lewald, uma escritora do programa. Quando a última temporada da série estreou em 1996, o visual distinto da série havia desaparecido. Os primeiros cinco episódios apresentaram os designs padrões, mas em uma produção menos ambiciosa. Os seis episódios finais então ficaram visivelmente diferentes, com uma estética de design totalmente nova.


O episódio “O Conto de Fadas de Jubileu (Jubilee’s Fairy Tale Theatre)” estreou esse novo visual. Projetos e planos de fundo simplificados e uma aparência muito mais próxima de uma animação tradicional para televisão, sem nenhuma semelhança com os quadrinhos da Marvel dos anos 90. Os modelos da série foram refeitos para remover a maioria das sombras e linhas de detalhes, criando um clima não muito diferente de qualquer outro desenho da época.


Os Lewalds explicam que a ordem de mais episódios foi uma surpresa, já que a história de quatro partes da temporada anterior “Acima do Bem e do Mal(Beyond Good & Evil )” foi planejada “como um final de série estrondoso”. Os animadores que conduziram a série ao longo de sua jornada, como Larry Houston, migraram para outros projetos, e a Graz Entertainment (que supervisionou a produção de animação) foi fechada durante essa série de episódios, pois seus proprietários foram contratados para trabalhar para Dreamworks. A Saban, que anteriormente supervisionava a pós-produção na América, agora estava ocupando o lugar de Graz e economizando sempre que possível. Os Lewalds escrevem:

[Animador] Mark Lewis explicou que parte disso era uma esperança bem-intencionada por parte dos designers restantes, incluindo Frank Squillace, de que se eles ajudassem a simplificar os designs, seria mais fácil para os animadores estrangeiros lidarem com o orçamento mais baixo. Pode ter ajudado um pouco, mas a animação ainda sofreu com o design limitado. E sem Larry [Houston] ou Margaret ou Stephanie [Graz Entertainment] exigindo revisões, erros e imagens estranhas não foram corrigidos.

Squillace também falou sobre suas frustrações com a Saban durante a entrevista com Popgeeks:

Para mim, pessoalmente, eles não me deixaram fazer o trabalho. Eles não me disseram quando eu precisava cortar custos. Provavelmente terei problemas por causa disso, mas pessoas não tão criativas assumiram o controle e senti que não poderia mais produzir o programa. Não consegui manter o padrão de qualidade pelo qual trabalhamos. Então foi quando eu saí…Eu saí do série quando estávamos fazendo o episódio que o Capitão América encontra Wolverine. Len Wein estava escrevendo e teria sido incrível.


Mesmo com os designs simplificados, a qualidade da animação nesses episódios finais não chega a ser ruim. Curiosamente, em uma coletiva de imprensa para os episódios finais, os animadores citaram o trabalho do artista Joe Madureira em Fabulosos X-Men como uma influência no novo visual da série. Essa afirmação pareceu estranha a muitos fãs na época, mas os Lewalds explicam:

Durante a temporada final de onze episódios, a nova equipe de design, liderada por Frank Squillace e Mark Lewis, teveram uma ideia divertida em meio a todos os cortes: um visual novo para todo o elenco. Mais longos, mais enxutos e ainda mais influenciados por anime, esses modelos de personagens foram propostos por nossos dedicados artistas exatamente na hora errada. Quando os orçamentos estavam sendo reduzidos, a última coisa que os supervisores de produção precisavam era a despesa adicional de redesenhar os personagens (que na verdade tinham sido severamente “simplificados” para economizar dinheiro).

O que você acha do visual da animação nos episódios finais?

Fonte: CBR