Geração X, tudo sobre o VERDADEIRO primeiro filme dos X-Men
Na primavera de 1996, os X-Men estavam no auge de sua glória … ou pelo menos do seu sucesso comercial. Na época, havia nada menos do que oito títulos mensais em andamento (X-Men , Fabulosos X-Men , X-Factor , X-Force , Excalibur , Wolverine , Cable e Geração X), com crossover uma vez por ano, e a série animada amada e aclamada pela crítica estava em sua quarta temporada. Era hora do próximo passo.
Havia rumores constantes de um filme circulando por Hollywood, para o deleite dos fãs que esperavam por um desde meados dos anos 80. Mas como você poderia abordar algo com o tipo de escala e conteúdo do Universo X-Men e fazê-lo funcionar para um público abrangente?
Na época, a FOX já detinha os direitos para adaptações dos mutantes, e o primeiro projeto sugerido foi justamente uma série de TV. Mas onde que uma série de TV teria orçamento para algo assim? Ainda assim… a ideia continuou de pé. Eles poderiam transmitir um episódio piloto em formato de filme de TV e, se fosse um sucesso, a série poderia seguir. Mas qual título? Quais personagens? Bem, alguns fatores influenciaram esta decisão.
⊗ O início de um sonho
Na época, havia a Geração X, que de várias maneiras era a propriedade perfeita para esse início. Até então era a equipe mais recente das HQs dos X-Men, com menos de dois anos de idade, e que, com exceção de Jubileu, Banshee e Emma Frost, todos os outros personagens eram novos e não haviam se tornado tão conhecidos do público ainda. Eles eram “estilo X-Men” o suficiente para que seu sucesso pudesse abrir caminho para quaisquer projetos futuros dos mutantes, mas não tão populares para que seu fracasso significasse a ruína de tudo. E, além de tudo isso, na época o drama adolescente estava na moda.
A premissa da HQ era bem promissora. O veterano X-Man Sean Cassidy, também conhecido como Banshee, e a vilã redimida Emma Frost (anteriormente, a Rainha Branca) abrem a Escola Xavier para Jovens Superdotados em Massachusetts, enquanto a escola original, que havia sido rebatizada de Instituto Xavier de Estudos Avançados, continuava sendo o lar e a sede dos X-Men. A tarefa de treinar adolescentes mutantes rebeldes caberia à recém-criada Academia em Massachusetts, com Sean, Emma e a jovem Jubileu sendo os rostos conhecidos que preparariam o terreno para uma nova geração de X-Men em treinamento.
Era uma história em quadrinhos bastante sólida e tinha potencial para se tornar uma série live action extremamente popular. Então, foi definido, seria isso e seria perfeito. A Geração X ganharia os holofotes!
Só que não.
⊗ Os cortes
No início do desenvolvimento do piloto, certas concessões foram feitas por causa das restrições orçamentárias. A fim de depender fortemente de personagens cujos poderes poderiam ser facilmente demonstrados com efeitos práticos e baratos, alguns dos personagens mais chamativos e interessantes não foram escolhidos para série, e aqueles que conseguiram foram visualmente mudados.
A vítima mais óbvia foi Câmara, um mutante cuja energia psiônica se manifestou tão violentamente que explodiu toda a sua caixa torácica e mandíbula. Agora, sem vários órgãos internos, sua vida é sustentada pela energia que jorra de seu peito. Da mesma forma, Suplício, uma garota silenciosa e um tanto selvagem, cuja pele e cabelos ruivos eram duros como diamantes e afiados, teria sido imensamente difícil de adaptar. O mesmo para Escalpo, a irmã mais nova do personagem Míssil (favorito dos fãs de Novos Mutantes/ X-Force), que tinha o poder de trocar de pele para revelar uma forma alternativa temporária (animal ou mineral) por baixo. Manter esse conceito em 12 HQs por ano já era desafiador o suficiente, imagine, então, 22 episódios por temporada. E então havia Sincro, que teoricamente tinha o poder mais fácil de representar, porque tudo o que era necessário seria imitar poderes que já existiam naquele episódio.
⊗ Os sobreviventes
Os personagens que permaneceram da formação dos quadrinhos foram:
Emma Frost, uma das poucas (talvez única) coisas boas do filme. Interpretada por Finola Hughes, a adaptação da telepata foi a coisa mais próxima dos quadrinhos que o filme conseguiu fazer, sendo essa versão bem mais fiel que as duas adaptações posteriores, de Tahyna Tozzi em X-Men Origens: Wolverine e January Jones em X-Men: Primeira Classe (como se fosse muito difícil superar, não é mesmo?). Essa versão da Emma captou muito da essência da personagem: uma mulher extremamente inteligente, disciplinada, com um humor ácido que protege seus alunos, apesar de toda rigorosidade, além de ser bastante sensual. A exceção fica pelo figurino, que ganhou mais tons de prata do que branco.
Já não podemos dizer o mesmo do Banshee, que no filme é interpretado pelo ator que deu a voz ao personagem na série animada, mas as semelhanças param por aí. O mutante irlandês de longos cabelos ruivos e uniforme verde virou uma versão morena de roupas pretas, que seria irreconhecível a não ser por seu grito sônico. Seu poder de voo foi removido no filme.
A mutante dos fogos de artifício, Jubileu, teve seu lugar garantido devido ao seu reconhecimento da série animada dos X-Men. Sua etnia, no entanto, não sobreviveu à adaptação, já que a personagem sino-americana infelizmente foi interpretada por uma atriz branca, apesar de ter sido uma das poucas boas atrizes do elenco.
Derme, que como seu nome sugere, tinha controle sobre quase 2 metros de pele extra em seu corpo, também entrou pro elenco, embora tenha sido confundido com o Sr. Fantástico do Quarteto Fantástico, cujo corpo inteiro era maleável, não apenas sua pele.
Havia M, uma adaptação fácil, já que a maioria de seus poderes (basicamente ser linda, inteligente, super forte e invulnerável) eram baratos e fáceis de retratar na tela. Apenas seu poder de voar foi omitido, embora isso tivesse sido fácil de conseguir. Seus ataques de catatonia também foram cortados, uma pena, já que eles e suas origens eram provavelmente a coisa mais interessante sobre ela.
E então Mondo, cujo poder era assumir a aparência e as propriedades de qualquer substância orgânica que ele tocasse. Mas não apenas seu poder foi ridiculamente reduzido a meramente assumir a dureza do objeto que ele “absorve ”(Um efeito convenientemente invisível), mas tanto sua etnia quanto sua personalidade foram completamente retiradas e substituídas, transformando-o de um samoano gordo e descontraído para um atleta estereotipado, machão e idiota interpretado por um ator negro. Esta foi provavelmente uma tentativa de atrair melhor o público, já que provavelmente haveria mais espectadores negros do que samoanos ou honrar o Sincro de alguma forma.
Escalpo foi de alguma forma representada pela personagem original Buff, que também era uma loira sulista. Buff possuía força e musculatura aprimoradas, basicamente dando a ela os mesmos poderes de M, apenas com o dobro de problemas corporais. Sua insegurança sobre seu corpo a levou a usar moletom em quase todas as cenas (é claro), tornando sua mutação essencialmente invisível e, portanto, barata de usar. Foi sugerido que Refrax, outro personagem feito para o filme de TV, era o substituto de Câmara, mas com seus feixes de radiação óptica, ele é mais uma mistura de Ciclope com Billy Idol do que qualquer outra coisa coisa.
⊗ Deu tudo errado
Então houve alguns ajustes no elenco. Os personagens e suas habilidades foram modificados um pouco, mas não seria uma perda total, certo? O tempo e o sucesso poderiam trazer mais dinheiro, o que significaria melhores efeitos especiais e poderia abrir a porta para mais personagens e histórias dos quadrinhos. Contanto que fosse um bom roteiro com valores de produção decentes, ele tinha uma chance.
Mas o roteiro de Eric Blakeney não era muito bom, na verdade, dizer que era horrível seria extremamente gentil.
Em vez de focar em um vilão real dos quadrinhos, o vilão era um personagem comum, o cientista maluco cafona, Russel Tresh. E que personagem horrível ele era. Além de ser apenas chato e clichê, seus objetivos e plano faziam muito pouco sentido e ele estava sobrecarregado com uma lista genérica de características “malignas”. Ele era psicopata E racista E sexista E até mesmo é sugerido que é pedófilo.
Em vez de nos dar um piloto sobre o vilão Sangria, o irmão mais velho de M que apareceu como o antagonista da primeira edição dos quadrinhos da Geração X e provou ser um grande vilão recorrente na série, recebemos um roteiro inchado e sem sentido sobre a “dimensão dos sonhos”, apresentando Frewer como o híbrido mais irritante possível de Freddy Krueger e o Charada de Jim Carrey em Batman Eternamente. A conexão de Sangria com M teria acrescentado alguma profundidade e propósito à personagem de outra forma consistente, mas ela apareceu no filme como um pouco mais do que uma colegial arrogante. Havia potencial para personagens reais e, em vez disso, tudo que transparece é tirado do pote dos clichês e dramas adolescentes.
O filme da Geração X acabou sendo uma história absurda que não tinha muito a ver com os quadrinhos, apresentando uma equipe diluída enfrentando um vilão irritante do qual ninguém gostava. Seu fracasso não pode ser atribuído a sua escrita exagerada, baixos valores de produção e efeitos especiais de m*rd@, visto que Hércules e Xena foram construídos sobre essas condições e essas franquias prosperaram durante a maior parte de uma década.
⊗ Sacrifício necessário?
Ao tentar agradar a muita gente, o filme acaba não agradando a ninguém. Não é leal o suficiente ao material de origem para agradar os fãs hardcore, nem ousado o suficiente para estabelecer sua própria identidade. E, no final, o fato de a Geração X ter sido escolhida como a cobaia para esse pequeno experimento é provavelmente o que salvou o Universo X-Men de ser abortado no útero. Apenas três anos depois, o primeiro filme dos X-Men entrou em produção, e conseguiu não só abrir as portas pra filmes de heróis da Marvel, mas para todo gênero de super-heróis.
Os quadrinhos da Geração X só sobreviveriam por mais alguns anos, tornando-se pouco mais que uma nota de rodapé na história da franquia X-Men. Se isso foi resultado do fracasso do filme ou mera coincidência, permanece aberto a conjecturas, mas aí está.
O filme foi universalmente criticado e é provável que todas as partes envolvidas soubessem que ele nunca iria para a série antes mesmo de ir ao ar, mas foi um procedimento experimental que valeu a pena ser pioneiro. Então, se alguém tivesse que morrer nesta mesa de operação, a Geração X seria o melhor voluntário possível. Um experimento só é um fracasso total se não ensinar nada, e este nos deu uma lista abrangente de erros que nunca mais se repetiram com a franquia.
Honestamente, exceto pela interpretação de Finola Hughes de Emma Frost, quem realmente chora pela Geração X? Ninguém.
Fonte: Dan of Geek