Fã critica visual sexualizado de Pó e cria novo design muito elogiado
Fã incomodada com o uniforme sexualizado da Pó, a mutante muçulmana, decide criar sua própria versão do uniforme sendo super elogiada.
Sooraya Qadir, a mutante Pó, tem a habilidade de manipular areia. Sendo ela uma muçulmana tradicional do Afeganistão, sendo descrita pela Marvel como tendo um “amplo respeito pelas tradições”. Sooraya é uma mulher muito independente e ativista das causas sociais, sendo muito forte e de índole indomável.
Suas roupas e uniformes dos X-Men normalmente são baseados na vestimenta conhecida como abaya, que cobre totalmente o seu corpo, e também usa uma niqab — uma espécie de véu — sobre seu rosto, deixando apenas seus olhos expostos.
Teoricamente, tendo seu corpo coberto pela abaya, Sooraya fugiria completamente da ideia de ter seu corpo sexualizado. No entanto, até ela mesma é vítima da sexualização por parte de alguns desenhistas da Marvel.
Sara Alfageeh, de Boston, EUA, muçulmana, ilustradora e streammer, sempre amou quadrinhos. Quando criança, ela costumava “correr para a biblioteca com pilhas deles”.
Em um tweet, a Sara desabafou sua frustração com a forma como o personagem Pó era desenhada. E a representação sexualizada da personagem a irritou tanto que ela escolheu resolver o assunto com suas próprias mãos.
y’know.
— Sara Alfageeh (@SaraAlfageeh) August 26, 2018
I love comics. I do, I really do. but wow y’all. who signed off on this Dust art. who looked at a niqabi character and still gave her the latex costume treatment. I’m laughing so damn hard oh my god. pic.twitter.com/nyk4CYbAlE
Alfageeh compartilhou uma imagem de Pó e perguntou: “Quem olha para uma personagem com niqab e dá a ela o tratamento de látex?”. E conscientemente diversas pessoas se sensibilizaram para o questionamento dela após perceber o traje sexualizado da Sooraya.
Muitos fãs concordam que a abaya de Sooraya não era reflexo de um realista, principalmente por ser muito justo ao corpo da personagem.
Na época do tweet, em 2018, Sara havia feito uma entrevista para o BBC onde ela havia comentando o quanto havia ficado irritada pelo artista ter “sentido a necessidade de sexualizar a Pó” e fazer a abaya ficar “rente ao seu corpo”. Outros usuários inclusive comentaram que era muito apertada para uma abaya.
Sara então decidiu redesenhar o traje da heroína muçulmana – ecoando uma tendência recente nas redes sociais de redesenhar personagens de quadrinhos vistos com traços machistas: “Uma mulher que usa o niqab precisa dessa atitude e serenidade só para andar pelas ruas. É como eu me sinto.”.
Suas imagens de Pó foram curtidas por mais de 20mil usuários do Twitter. E centenas de pessoas responderam para elogiar o novo design. A melhor parte é que muitas jovens muçulmanas comentaram para aplaudir e se sentiram inspiradas pela Pó e pelo movimento da Sara — sendo essa uma das principais virtudes dos X-Men, a representatividade. Nos comentários de sua postagem é possível ver comentários como “eu queria que essa personagem como modelo, do jeito que você a expressou” outras comentaram “Pare, estou chorando, posso me vestir assim agora”.
If you want something done right dO IT YOURSELF.
— Sara Alfageeh (@SaraAlfageeh) August 27, 2018
Here are some Dust redesigns, fueled by bitterness and a deep love of street fashion. pic.twitter.com/OwVEdfxJgL
Infelizmente, com toda a repercussão, os fãs lembraram que Pó foi mais uma das personagens minoritárias dos X-Men vítima de uma má pesquisa de origem — Karma também se adequa a essa lista sendo uma vietnamita com nome e sobrenome chinês.
A Marvel lista o local de origem de Pó como um “local não visitado no oeste do Afeganistão”. No entanto, Sooraya fala em árabe, em vez de Pashto ou Dari, que são muito mais comumente falados nessa região do Afeganistão.
Durante a sua aparição em WAY OF X #4 (2021), muitos fãs resgataram pelo twitter essa história como também o redesign feito por Sara para a Sooraya — se tornando viral novamente.
Vale lembrar que inicialmente, apesar da vestimenta islâmica conhecida como “burka” — esse é um termo genérico usado para a roupa, na verdade a burka é um estilo — ter sido imposta sobre todas as mulheres e ser visto como algo opressivo, desde a última década essa visão tem sido mudada como sendo algo de escolha da própria mulher, e não mais como uma imposição, mas sim como um sinônimo de fé e de orgulho.
Com todo esse assunto sobre a sexualização da mulher muçulmana e da “imposição” de seu modo de vestir, vale destacar aqui também a entrevista da supermodelo Halima Aden, de fé muçulmana, conhecida por usar o seu hijab inclusive nas passarelas. E em sua entrevista ao BBC em 2020, ela comentou: “Mulher nenhuma deveria ser forçada a usar um hijab e mulher nenhuma deve ser forçada a tirá-lo. Eu celebro minha opção por usar o hijab. Eu nunca disse a ninguém para seguir as minhas visões ou se vestir como eu”.
Sooraya, Sara e até mesmo a Halima nos mostram a necessidade de termos mais modelos de representatividade, mais do que isso, que sejam reais e livres de estereótipo. Personagens de grupos minoritários existirem nas HQs não é o suficiente se a forma com que são escritos reforça estereótipos. É preciso ir além e construir personagens que desafiem ideias comuns e preconceituosas.
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