QUADRINHOS

Cristal a personagem originalmente negra que foi transformada em branca

Cristal pode não ser uma personagem extremamente conhecida pelo grande público. Ainda assim, dentro do nicho dos quadrinhos, Alison Blaire é uma mutante bastante popular e querida pelos fãs. Foi por isso que a informação de que ela faria uma participação em X-Men: Fênix Negra foi muito bem recebida. O que a maioria dos fãs não sabem, no entanto, é que ao invés de uma mulher branca de cabelos loiros, a mutante originalmente foi concebida para ser uma afro-americana de cabelos negros. Abaixo você poderá descobrir um pouco mais sobre essa informação e a mudança no design.


⊗ Concepção

Segundo Jim Shooter, que já foi editor chefe da Marvel Comics, em algum momento do início de 1979, a advogada interna da Marvel e vice presidente dos negócios, Alice Donenfeld propôs a criação de uma super-heroína que também era cantora. Ela esperava formar um acordo com uma gravadora – onde a Marvel produziria os quadrinhos com a personagem e a gravadora produziria e comercializaria músicas usando músicos de estúdio, como foi feito com “the Archies”.

Como a música Disco estava muito popular na época, esse foi o ritmo músical escolhido para representar a personagem. Shooter designou Tom DeFalco e John Romita Jr. para a criação da mutante. Nas reuniões entre os três vieram os primeiros esboços de visual, o conceito dos poderes e a história da mutante, que buscava ser uma estrela e utilizava seus poderes luminosos como efeitos especiais.

Shooter também explicou que DeFalco queria que a personagem se chamasse “Evelyn Free”, um trocadilho com Evil and Free, ou malvada e livre. Contudo, essa ideia foi rejeitada prontamente.


⊗ Design original

Durante o fim dos anos 70 e início dos anos 80, existiam poucos personagens homens ou mulheres negros. Se dependesse de Romita Jr, Cristal seria uma das heroínas que entraria para essa lista junto com Tempestade e Misty Knight. Isso porque o próprio artista disse a revista Modern Masters, que quando criou o visual da mutante, se inspirou na modelo, cantora e atriz jamaicana, Grace Jones. O desenho acima é assinado pelo próprio John Romita Jr.

Eles me pediram para criar o design, e então me pediram para fazer algumas imagens com a personagem. Na época, nós nos envolvemos com a gravadora e eles queriam um visual em específico, mas originalmente era para ser Grace Jones. Grace Jones era uma cantora muito popular na época, e eu queria que ela fosse a base da personagem, porque achei isso realista.

Contudo, não foi o que aconteceu, no final das contas, o visual que deu inspiração a Cristal, como todos nós sabemos, não é o de uma cantora negra.


⊗ A troca de design

Como dito acima, a princípio Grace Jones deveria ser a inspiração para Cristal. Contudo, ficou decidido pelos superiores de Romita, que o visual da mutante deveria ser baseado em outra atriz. Bo Derek, uma atriz loira de olhos azuis, que estava famosa pelo sucesso da comédia romântica “Mulher nota 10” foi a escolhida. Segundo John, ele sentiu que de certa forma a personagem foi “vendida”.

“De repente, [o visual de inspiração] era o de Bo Derek em 1981 por causa do filme Mulher nota 10. E foi quando eu pensei ‘É isso. Eles se venderam por uma garota loira branca padrão’.

O artista então explicou porque não gostou muito dessa decisão e porque gostaria de ver Cristal como uma mutante negra:

Eu cresci em uma cidade onde as garotas brancas não eram 90% da população. Havia afro-americanas, havia hispânicas, havia asiáticas, era multicultural. Eu não via apenas garotas brancas, então queria que fosse Grace Jones. E eles disseram ‘Não, nós temos que mudar as coisas, porque Bo Derek está no filme “Mulher Nota 10” e ela é a mais bonita em Hollywood’, e assim foi.


⊗ O filme solo que nunca aconteceu

A escolha de Bo Derek também foi comercial, visto que os planos de montar uma banda na vida real para a personagem, evoluiram para um filme musical. A intenção era criar um longa metragem, protagonizado por Derek e com diversas estrelas do mundo da música. Obviamente esse plano também não deu certo.

Para o projeto de cinema, mudar o design da personagem foi um tiro no pé. Isso, porque o sucesso de Bo, fez com que ela ficasse grande o suficiente para fazer exigências para participar de filmes. Bo Derek basicamente não apareceria em filmes na época, a menos que o marido dela John Derek a dirigisse, o que não aconteceu no filme da Cristal. Segundo informações, John era uma pessoa extremamente difícil de se lidar e de trabalhar, com esse comportamento ele afundou a própria carreira e de certa forma, a da esposa também.


Em suma, Cristal é mais um caso que explicita como é difícil criar representatividade na cultura pop. Até mesmo quando os criadores têm essa intenção, sempre há pessoas do alto escalão causando empecilhos para que isso não aconteça. Você gostaria de ver a personagem no cinema com o design original?