QUADRINHOS

A religião e o seu impacto nos X-Men

A religião é vista através de lentes super-heróicas nos quadrinhos da Marvel, mudando significativamente o que é geralmente observado com um tom de reverência mística para um tom de irrealidade brilhantemente colorida: O Motoqueiro Fantasma já falou com Jesus; um ser em um terno amarrotado chamado Beyonder tem poderes divinos; e há vários Senhores do Inferno que têm uma semelhança impressionante com o Diabo. Em suma, embora se baseados em crenças religiosas, a prática delas feita pelos personagens é em um tom um pouco menos sombrio.


No centro de tudo, temos os X-Men, que, em virtude de terem um elenco vasto e relativamente diverso, facilitaram algumas das parábolas religiosas mais interessantes dos quadrinhos. Embora existam alguns retratos negativos gerais da religião em geral, como Jeanne-Marie Beaubier e Lupina, também há casos em que a religião desempenha um papel positivo na vida dos personagens.

⊗ Judaísmo

As crenças da equipe raramente eram referenciadas ou claramente declaradas até a entrada de Kate Pryde. Durante a época do Natal, os outros X-Men estavam animados para comemorar o feriado, enquanto Kate preferia passar algum tempo sozinha. Observando que ela gostou e celebrou o Natal, não vimos muito como ela interage com sua própria fé.

Homem de Gelo também é judeu, embora, como com Kate, o aprofundamento de sua crença no judaísmo tenha permanecido bastante rasa ao longo dos anos. Bobby raramente aborda sua própria herança, enquanto Kate Pryde é um dos personagens judeus mais proeminentes dos quadrinhos. Ao discutir sua identidade, ela quase sempre menciona esse histórico. Embora ela mantenha apenas uma conexão frouxa com seus pais e família, na maior parte, Kate tem orgulho de ser uma mulher judia. Enquanto isso, embora a identidade de Magneto como um homem judeu seja mencionada frequentemente em conjunto com seu sofrimento nas mãos dos nazistas, muito raramente vemos quaisquer efeitos positivos disso. Se ele comemora feriados judaicos tradicionais ou pratica o judaísmo de qualquer forma organizada ou comunitária, não vemos isso. 


Com todos esses personagens, embora apresentem vários graus de autoaceitação sobre suas origens, nenhum parece participar da adoração regular. Ainda assim, as únicas vezes que Magneto mostrou qualquer nível de simpatia ou compreensão por Kate foi em relação às suas origens étnicas semelhantes. Embora Magneto tenha sido vítima do Holocausto em tempo real, Kate expressou naturalmente um sentimento de horror e indignação sobre como a atrocidade afetou sua família, mesmo várias gerações depois.

Novíssimos X-Men n° 13
⊗ Catolicismo

No que diz respeito a casos bizarros da religião em quadrinhos, Kurt Wagner/Noturno é um dos mais estranhos. Kurt é um ex-artista de circo nascido na Alemanha, criado por uma mãe cigana adotiva chamada Margali Szardos ao lado de sua meia-irmã e, posteriormente, namorada de longa data, Amanda Sefton. Obviamente, as palavras “meia-irmã” e “namorada” não devem se aplicar à mesma pessoa, mas este é o mundo em que nosso amigo Kurt está vivendo. Embora ele nunca pareça se relacionar particularmente com sua criação um tanto pagã, mais tarde ele se torna um católico praticante. Como exatamente isso aconteceu ou quando Kurt inicialmente encontrou o tempo e a comunidade para se tornar católico não está claro, mas isso o definiria na maioria das interpretações do personagem.

Por anos, os pais biológicos de Kurt eram desconhecidos, mas eventualmente é revelado que sua mãe era a vilã metamorfa Mística, que o jogou em um rio quando uma multidão furiosa soube de sua existência e a seguiu na esperança de matar os dois. Ela fora casada com um homem rico de sobrenome Wagner, e presumia-se que ele fosse o pai. No entanto, Kurt foi católico por vários anos quando um retcon afirmou que seu pai biológico era o demônio Azazel, que foi creditado por salvar Kurt. Assim a história sobre um católico que parecia um demônio de verdade e como isso o impedia de frequentar a igreja apresentou uma justaposição ética interessante.


Nos quadrinhos, o catolicismo de Noturno tem estado um pouco morno no que diz respeito ao seu nível de compromisso, às vezes estudando obsessivamente para se tornar um padre e outras vezes mencionando suas crenças apenas de passagem. Enquanto isso, em outras mídias, a fé de Kurt tem sido um de seus traços de caráter definidores. Quando fez sua primeira aparição em X-Men: A Série Animada, ele é um fenômeno que os X-Men são enviados para investigar, um fantasma da paróquia local, vivendo dentro da igreja para estar mais perto de seu deus. No filme X-Men 2, de 2003, Kurt aparece coberto de símbolos que esculpiu em sua própria pele para representar seus pecados, exibindo uma visão um tanto sombria da religião e questionando como suas crenças religiosas afetaram seu estado mental. Na atual fase dos quadrinhos, Kurt questiona algumas medidas tomadas em Krakoa e como isso põe a prova suas crenças, como por exemplo, a imortalidade dos mutantes.

⊗ Outras crenças

Enquanto Noturno é frequentemente definido por sua dedicação religiosa, Colossus, que conviveu ao lado dele como um X-Man por muitos anos, expressou um desinteresse quase total por esse assunto. Seu local de nascimento na Rússia é geralmente considerado mais fortemente ateu ou ocultista do que muitos outros países, embora, é claro, existam muitas religiões díspares praticadas lá. Mesmo depois de encontrar todos os cenários alucinantes que ele tem com os X-Men, Colossus não está convencido da existência de uma vida após a morte. Ainda assim, sua irmã Illyana quase se tornou um demônio de verdade e ocasionalmente serviu como governante do Limbo. Embora ela tenha uma opinião bastante baixa sobre religião, ela tem praticado o ocultismo durante grande parte de sua vida.

Um dos poucos personagens hindus nos quadrinhos também é um X-Men, embora ele raramente tenha aparecido além de seu enredo de introdução. Vindo de Calcutá, na Bengala Ocidental, Neal Shaara ou Thunderbird III declarou que seu veganismo está em sintonia com sua fé. Infelizmente, ele não foi desenvolvido muito além disso, então ficaremos esperando por uma representação melhor do hinduísmo nos quadrinhos convencionais. Embora os X-Men tenham membros de todo o mundo, muitos deles caem no esquecimento e o foco e o desenvolvimento fica com os personagens mais populares da equipe.


Enquanto isso, muitos X-Men celebram uma espiritualidade vaga em oposição à religião. Para Tempestade, sua fé é baseada na adoração da Terra. Raramente se envolvendo em qualquer tipo de debate ou comentário teísta, ela pratica controle contínuo sobre a maneira como seu corpo interage com seu ambiente. Muito disso é baseado na necessidade de manter a autorregulação sobre seus poderes, mas ela expressou interesse e devoção à adoração da deusa desde suas primeiras aparições na equipe. E claro, ela também era adorada como uma deusa.

Tempestade não é a única X-Man a ser adorada, no entanto. Nos anos 90, Magneto, que até então era visto como um provocador político na melhor das hipóteses e um terrorista na pior, tornou-se uma espécie de figura cult quando dezenas de mutantes se juntaram a ele em seu satélite no espaço, o Asteróide M. Chamando-se de Acólitos, eles admiravam Magneto como uma figura religiosa. Mais tarde, quando ele(na verdade, seu clone) caiu na Terra, foram as freiras de um pequeno convento que cuidaram dele até recuperar sua saúde.

Fabulosos  X-Men n° 327

Uma X-Man na verdade fundou sua própria religião, embora muitos séculos no futuro. Um dos conceitos subutilizados mais interessantes em todos os quadrinhos, Rachel Summers, a filha do Ciclope e da Jean Grey em realidade alternativa, viaja ao futuro para fundar um grupo religioso, conhecido como Irmandade Askani. Rachel reúne o grupo para derrotar o vilão imortal Apocalipse, e seus seguidores a adoram no nível de uma figura religiosa ou de culto.


⊗ Deus ama, o homem mata

Finalmente, uma das histórias de X-Men mais bem conceituadas de todos os tempos, Deus ama, o homem mata, foi escrita especificamente para comparar a intolerância religiosa de pessoas homossexuais à perseguição de mutantes. O vilão William Stryker tem um filho que é mutante, e a vergonha que ele sente o leva a aparentemente matar sua esposa e filho. Ele ataca os X-Men e tenta matar Kate Pryde enquanto desumaniza mutantes por meio de seu evangelismo. Uma crítica contra os extremistas religiosos, Stryker praticamente não é um personagem, mas sim um reflexo perfeito da vida real.


Deus ama, o homem mata

Eventualmente, Stryker é aparentemente convencido por Kate Pryde a esquecer seu ódio por mutantes e se tornar uma pessoa melhor, mas histórias como essas são sempre questionáveis. A implicação de que alguém poderia gentilmente convencer um fanático amargo que estava disposto a matar sua própria família para ser uma pessoa melhor reflete algo que vemos com tanta frequência no mundo real: a ideia de que é o responsabilidade dos perseguidos de raciocinar com seus opressores. Esta redenção é obviamente de curta duração. Descobrimos mais tarde que Stryker criou seu filho Jason em segredo, e Jason assume o trabalho de perseguição mutante do pai, tudo em nome da religião.

Qual sua opinião sobre a representação religiosa nos X-Men e nos quadrinhos em geral?

Fonte: SyFy Wire