QUADRINHOS

REVIEW: Com excelente primeiro episódio, LEGION cria nova forma de adaptar quadrinhos!

Os mutantes já estão presentes em mídias que vão muito além de seu ponto de partida (os quadrinhos), durante esses mais de 50 anos desde a primeira história publicada por Stan Lee em The X-Men #1, em 1963, eles já exibiram seus poderes em filmes, animações, jogos de videogame, brinquedos e até mesmo livros. Agora, uma nova mídia é alvo das aventuras fantásticas dos mutantes, a televisão. Nesta quinta-feira (9), no canal FX, estreou a série Legion, uma série gerada a partir da parceria entre Fox e Marvel Television, e com ela, os conceitos de adaptação de histórias em quadrinhos foram remodelados e apresentados de forma não só surpreendente, mas com uma qualidade invejável.

Trailer da série

Comandada pelo produtor executivo Noah Hawley (Fargo), que também escreveu o roteiro e dirigiu a série, Legion toma para si a tarefa de contar a história de um homem conturbado, diagnosticado com esquizofrenia paranoide, que viveu parte de sua vida em uma instituição para saúde mental, o hospital psiquiátrico Clockworks, assim, somos apresentados a David Haller (Dan Stevens). Como muitos pacientes diagnosticados com esquizofrenia, David não consegue definir se aquilo que vê é real, ou são apenas alucinações, esta é exatamente a mesma sensação que o telespectador sente enquanto assiste ao episódio.

Desde os primeiros minutos onde um pequeno resumo da vida de Haller é apresentado, até os minutos finais com um encontro inesperado, nunca é possível ter certeza se aquilo que nos é mostrado é real ou não, não nos é dado a oportunidade de descobrir quem são os vilões, se é que eles realmente existem, por exemplo. Isto acontece, porque a série de forma brilhante, coloca o espectador para acompanhar tudo na visão do próprio David, destacando a aflição vivida por uma pessoa portadora de alguma doença mental, razão pela qual o episódio possui um incrível clima psicodélico, seja com intensas cenas em câmera lenta, ou com sua trilha sonora pontual, mas poderosa. Embora o clima de tensão seja aliviado em alguns momentos, mesmo as cenas mais amenas ou cômicas, nos colocam em posição de questionamento.

Neste primeiro capítulo, não nos é mostrado muito dos coadjuvantes da série, apesar de muitos rostos, poucos nomes são fornecidos, dentre eles, há dois que merecem destaque: o primeiro é a amiga de David, Lenny Busker, interpretada por Aubrey Plaza, que rouba a cena nos poucos momentos em que aparece. O segundo nome, é Sydney (Syd) Barrett , personagem interpretada por Rachel Keller, que também é paciente em Clockworks, seu problema é definido apenas por sua aversão ao toque humano. A relação entre Sydney e David se estreita de forma bastante rápida, o casal é ponte para algumas das cenas de alívio cômico,  mas também é a partir de um momento entre eles que o ritmo do episódio se torna mais frenético, de forma que David começa a questionar se os acontecimentos que ele presencia são causados realmente por sua condição mental. Com os questionamentos do personagem vindo a tona, o espectador consegue pescar algumas respostas (somente porque a série nos permite fazê-lo), estas descobertas aliviam a sensação de confusão na qual somos inseridos, no entanto, para cada resposta que o episódio nos fornece, outras duas perguntas são criadas, tornando o episódio ainda mais fascinante.

Até então, o protagonista, seus poderes e a possível perseguição do governo para com aqueles que possuem habilidades especiais, Legion não trás muitas referencias ao universo dos mutantes, isso pode deixar alguns fãs frustrados, assim como a falta de ação e cadência que o capítulo dessa semana apresentou. Por outro lado, ele trás consigo a mais pura essência da característica que tornou os X-Men uma das equipes mais populares de todos os tempos, o foco para uma minoria “jogada” de lado. O espectador é colocado na pele de um portador de doenças mentais, assim, mesmo que minimamente, é possível presenciar o quão assustadora a situação de David é, o que nos faz ter empatia pelas pessoas que realmente enfrentam o problema, este é sem dúvida um dos pontos mais altos do episódio. Esta empatia talvez não fosse tão genuína se a série não fosse protagonizada por alguém tão competente quanto Dan Stevens.

É inegável que Legion é mais do que uma simples adaptação de um personagem de quadrinhos, e, embora as referencias aos X-Men não tenham aparecido, a fidelidade a essência do personagem ficou bastante clara. Com uma trama intrigante, personagens cativantes (Embora o desempenho de Rachel Keller não tenha sido nada além de satisfatório), um clima tenso e psicodélico, o primeiro episódio nos apresenta aquela que promete ser uma das melhores séries de quadrinhos já feita.

Legion é exibida as quintas feiras, as 22:30, no canal FX.