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CRÍTICA: Deadpool & Wolverine não é revolucionário, mas vai entregar EXATAMENTE o que você quer

A jornada de Wade Wilson nos cinemas teve um começo conturbado. Sendo interpretado por Ryan Reynolds e fazendo sua estreia no fraquíssimo X-Men Origens: Wolverine de 2009, o personagem foi retratado de uma maneira que não lembrava muito sua contraparte nos quadrinhos. O personagem cômico, tagarela, ácido, carismático, que literalmente se comunica com o público e é, ao mesmo tempo, extremamente violento virou algo extremamente genérico.


No entanto, a atuação de Reynolds não passou despercebida e ele conseguiu retornar em um projeto solo do personagem anos depois. Deadpool chegou aos cinemas em 2016 e mudou o gênero de super-heróis. Em uma época em que a Marvel Studios e o finado DCEU lançavam projetos para atrair todo tipo público, a Fox apostou em um filme +18, com cenas explicitas de violência, sexo e um humor altamente distorcido encaixado em história de comédia romântica.

CRÍTICA: Deadpool & Wolverine não é revolucionário, mas vai entregar EXATAMENTE o que você quer
Deadpool (2016)

Deadpool 2, a sequência de 2018, aumentou a escala das coisas ao mesmo tempo que apostava no que deu certo no 1º filme e, apesar de ter sido bem bem recebido e contar com alguns momentos memoráveis, definitivamente não conseguiu gerar o mesmo impacto que seu antecessor, ficando um pouco apagado ao lado de filmes como Pantera Negra e Vingadores: Guerra Infinita.

Agora, 6 anos depois, podemos finalmente ver a conclusão da trilogia do Mercenário Tagarela, que chega depois de vários eventos históricos decisivos e em um momento muito específico da cultura pop. Caso você não lembre, entre 2018 e 2024, tivemos a compra da Century Fox pela Disney, uma pandemia global que a afetou toda a indústria do entretenimento e uma considerável queda na popularidade de filmes de super-heróis, que encerrou o 1º universo cinematográfico da DC e fez o MCU ganhar seus primeiros fracassos de bilheteria. Para completar o caos e fechar com chave de ouro, ainda tivemos uma greve dos roteiristas em 2023, onde vários projetos foram paralisados, incluindo Deadpool & Wolverine.

Então, como o filme lida com tudo isso?

SPOILERS ABAIXO
Deadpool & Wolverine (2024)

A resposta para todos esses eventos caóticos só poderia ser um personagem igualmente (ou até mesmo mais caótico) como o Deadpool. Livre de amarras que compõem a narrativa outros personagens, Wade Wilson não vai deixar nada passar batido aqui. Com a vantagem de ser uma paródia ambulante e de falar diretamente com o público, Deadpool transforma todo o drama da compra da Fox, a fase ruim da Marvel Studios e até mesmo o tédio do público atual com a Fórmula Marvel em uma grande piada caótica pelo multiverso.


Depois de uma cena de abertura épica (e bem coreografada), a história mostra o protagonista aposentado da sua vida de mercenário e tentando encontrar uma forma de estabilidade emocional e financeira. A resposta para crise de meia-idade de Wade Wilson parece vir quando a TVA (a mesma da série Loki) lhe convida para abandonar seu universo (Terra-10005) e se juntar ao MCU, já que a morte do Wolverine (que aconteceu no final de Logan) vai causar a morte natural daquele universo em alguns anos à frente. No entanto, um dos funcionários da TVA quer acelerar esse processo e está disposto a salvar apenas Wade.

Wade não aceita esse fato e começa a procurar por Wolverines pelo multiverso, o que rende momentos hilários e que vão fazer qualquer leitor de quadrinhos abrir um sorriso. Hugh Jackman retorna ao papel em várias versões do personagem que o deixou famoso, como o Wolverine baixinho, o Wolverine de A Era do Apocalipse, o Wolverine em seu pseudônimo de Patch e o Wolverine usando seu icônico traje amarelo e marrom. Tem espaço até mesmo para uma variante do Carcaju interpretada pelo Henry Cavill, com direito a uma piada sobre sua relação conturbada com a Warner Bros quando o ator deu vida ao Superman.

Wade finalmente encontra o candidato perfeito, o Wolverine que carrega uma enorme culpa por não ajudar os X-Men no passado, sendo apelidado como o “Pior Wolverine”. A dupla é banida para o Vácuo (sim, você precisa assistir a série do Loki) e somos presentados com aquilo que o filme faz de melhor: Cenas de ação, piadas afiadas e VÁRIAS participações especiais. É aqui que reencontramos o Tocha Humana de Chris Evans, o Blade de Wesley Snipes, a Elektra de Jennifer Garner, a X-23 de Dafne Keen, o Pyro de Aaron Stanford e temos até o gostinho de como seria o Gambit de Channing Tatum. Também somos apresentados a Cassandra Nova, a vilã do filme interpretada de uma forma ameaçadora por Emma Corrin.


Cassandra reina no local como uma ditadora e quer ter um Wolverine ao seu lado. Ao mesmo tempo, Wade e Logan fazem de tudo para voltar ao universo 10005 para impedir sua destruição. A dupla funciona perfeitamente, em química e principalmente em cenas de ação (com destaque para a cena do carro). Além disso, temos uma cena dos dois contra uma legião de Deadpools de outros universos que com certeza vale cada centavo pago no ingresso. Como tudo termina!? Com Deadpool e Wolverine (sem camisa) de mãos dadas segurando os fios de uma máquina multiversal genérica ao som de “Like a Prayer” de Madonna.

Emma Corrin como Cassandra Nova

Se você está lendo isso e pensando “Mas essa trama tá um caos!”, você acertou. A história e roteiro de Deadpool & Woverine servem apenas para entregar as piadas, os combos, os cameos e cenas de ação que você sempre quis ver. Em outros casos, isso poderia ser um desastre completo, mas Deadpool e toda a essência do personagem não deixam você ficar entediado em meio a tudo isso. Hugh Jackman como Wolverine é sempre uma grata adição e o ator coloca mais nuances em um personagem que já foi explorado em excesso nos cinemas. A direção de Shawn Levy é dinâmica e raramente não consegue acompanhar o completo surto generalizado que está sendo jogado na tela.

Em resumo, Deadpool & Wolverine não vai gerar o mesmo impacto que o 1º filme da trilogia ou entrar na lista de melhores do gênero, mas vai render momentos memoráveis para os fãs e se firmar como uma grande homenagem ao legado da era Fox/Marvel nos cinemas. Com certeza merece ser visto em tela grande.

Nota: 8/10