CRÍTICA (SPOILERS): Dr. Estranho 2 agrada ao fugir da “Fórmula Marvel” e mostra o potencial da Feiticeira Escarlate
Normalmente não fazemos críticas de filmes que não são da franquia X-Men, mas no caso de Doutor Estranho no Multiverso da Loucura foi diferente, uma aparição especial que ninguém esperava acontecer tão cedo no MCU: Um mutante aparecendo no filme e ninguém menos que o Professor X. Um motivo mais do que suficiente para que ficássemos de olho no lançamento do longa.
Separamos a crítica do filme em alguns tópicos específicos:
Introduzindo o Gênero Terror
Sam Raimi é o diretor do longa, um profissional muito conhecido pelo seu trabalho nos filmes de terror. No entanto, Raimi também é reconhecido por seu trabalho impecável nos dois primeiros filmes do Homem-Aranha de Tobey Maguire. Assim, os fãs tinham altas expectativas para a direção e ela não decepciona.
Na verdade, é possível dizer que a direção é o ponto alto do longa, que se mostra diferente de tudo o que vimos até então nos filmes do MCU, justamente por causa do trabalho de Raimi. Ele tem espaço suficiente para trabalhar da forma que quer, algo que dá a oportunidade dos fãs verem algo nunca visto antes no Universo Cinematográfico da Marvel, violência gráfica. Dentro dos limites permitidos pela censura, o filme apresenta olho perfurado, crânio afundado, pescoço quebrado, corpo cortado no meio e até sangue.
Mas não é só isso, a experiência de Raimi com o terror dá ao filme muitos momentos de sustos, com um clima assustador característico do gênero que se encaixa muito bem. Salvo algumas exceções, como na cena em que Wanda manca perseguindo Estranho e América, que é uma boa referência aos filmes de terror, mas não faz sentido visto que ela poderia simplesmente voar até eles.
Outros aspectos da direção
Outra coisa boa que a direção de Raimi trouxe para o longa é a liberdade para que Benedict Cumberbatch e Elizabeth Olsen fizessem suas performances. Embora o resto do elenco esteja muito bem (incluindo Xochitl Gomez como América Chavez que faz muito bem seu papel), esses dois em específico entregam suas melhores performances no MCU. Elizabeth consegue se mostrar uma excelente vilã, desde sua transição da boa (e fingida) Wanda, para a sua verdadeira natureza, onde vemos sua aparência e voz mudar e seus movimentos corporais fluírem. Já Benedict, entrega várias versões de si mesmo, que mesmo embora parecidas em personalidade, se mostram distintas e reconhecíveis.
O filme possui enquadramentos incríveis, um visual lindo e cenas de ação de encher os olhos. Um destaque vai para a cena de batalha de magia com notas musicais que é de uma criatividade impressionante. Infelizmente, o roteiro não é tão criativo quanto a direção e isso se mostra na jornada de Wanda, que falaremos depois mais abaixo.
A Jornada do Doutor Estranho
A história do Doutor Estranho em Multiverso da Loucura é uma continuação da participação dele em Homem Aranha: Sem Volta Para Casa. Strange não recuperou o seu posto como Mago Supremo, cargo que continua sob a liderança de Wong. No entanto, isso não diminui em nada as capacidades do personagem, que se mostra mais heróico do que nunca.
A jornada do herói se trata de mais um passo de desenvolvimento dele para se tornar alguém digno do posto de mago supremo. Strange precisa ajudar America Chavez, uma garota com poderes de atravessar as barreiras do Multiverso, a fugir de demônios que a perseguem. Assim, ele vai em busca de ajuda e procura a Feiticeira Escarlate, só para descobrir que é a própria Wanda quem está tentando sequestrar America para roubar os poderes da garota e matá-la.
Toda a história do filme se passa numa caça entre gato e rato pelo multiverso, até que Stephen e Chavez vão parar em um universo onde os Illuminatis são os heróis mais importantes da Terra. Ali, descobrimos que o Doutor Estranho daquela realidade utilizou “dominação onírica” (possessão do corpo de uma variante sua de outra realidade) para tentar derrotar Thanos, mas isso acabou causando a morte de trilhões de pessoas. Assim, os Illuminati tratam Strange como um perigo para o multiverso e cabe ao Doutor Estranho do universo 616 provar que eles estão errados.
É justamente o que acontece, Stephen consegue provar aos Illuminati, a America Chavez, a Christine Palmer sua amada e a si mesmo que ele é um bom herói.
A Jornada da Wanda Maximoff
Se você não assistiu WandaVision você conseguirá entender o filme sem dificuldades necessitando de poucas informações para fazê-lo, mas se você assistiu, talvez fique com um sentimento de repetição de jornada. Wanda Maximoff começa o filme já mostrando que sua redenção ao final de WandaVision não adiantou de nada, ou seja, o público assistirá isso novamente nesse filme.
Em WandaVision, Wanda sofre pelo luto de perder seu irmão e seu marido, por consequência do desespero ela acaba escravizando uma cidade inteira no processo de sanar a dor. No fim, ela se redime e entende que não pode seguir vivendo aquela ilusão e se isola em auto sacrifício, tentando compreender seus poderes.
Em Multiverso da Loucura ela está sofrendo por perder os filhos, por consequência do desespero, ela acaba arriscando a destruição de universos inteiros no processo de sanar a dor. No fim, ela se redime e entende que não pode seguir vivendo aquela “ilusão” em ter seus filhos de outra realidade e se afasta de todos e se sacrifica.
Parecido, não?
Por outro lado
Como já apontado quem se sobressai certamente é a atriz Elizabeth Olsen, que traz uma versão ainda mais perturbada de Wanda, com uma atuação incrível, mostrando diversos lados da personagem. Ela facilmente poderia ter esse filme intitulado como seu e trouxe diversos momentos que ficarão marcados na história do MCU. Para citar um desses momentos incríveis, podemos falar dela quebrando rapidamente a quarta parede e olhando para quem está assistindo o filme, ver isso na telona do cinema foi arrepiante e glorioso.
Outro ponto a se destacar são as cenas de ação da personagem, ainda que a Marvel Studios raramente erre nesse quesito. Embora deva se apontar também, que Wanda se prende em lançar rajadas de energia o que é um pouco maçante, a utilização dos poderes dela poderia ser mais criativa no uso de feitiços. Ainda assim, temos momentos incríveis de Wanda utilizando seus poderes, seja de forma assustadora, seja de forma megalomaníaca.
A personagem sem dúvida demonstrou seu real poder como Feiticeira Escarlate neste filme, mas com certeza esperávamos mais do que uma repetição de sua jornada em WandaVision. Sem mencionar a similaridade do arco de redenção da Fênix/Fênix Negra com o da Feiticeira Escarlate na Marvel Studios…mas isso é uma discussão para outro texto.
O primeiro mutante do MCU
A grande surpresa (para alguns) de Multiverso da Loucura, ao menos para nós X-Fãs, foi a aparição do Professor X como um dos Illuminati (que também inclui Barão Mordo, Sr. Fantástico, Capitã Carter, Raio Negro e Maria Rambeau como Capitã Marvel). Deixando sua aparição triunfal por último, Charles Xavier surge em sua cadeira flutuante idêntica da animação dos X-Men dos anos 90 e com a presença que apenas sir Patrick Stewart possui para dar vida a este personagem icônico.
Notamos que o personagem mantém a mesma postura e elegância do Professor X apresentado na franquia X-Men da FOX, mas aparentemente é uma outra variante de outro universo…exceto por um motivo.
Em um determinado momento ele cita uma frase ao Dr. Estranho que remete diretamente ao que Xavier disse a sua versão mais jovem no longa X-Men: Dias de um Futuro Esquecido:
“Só porque alguém tropeça e se perde no caminho, não significa que está perdido para sempre.”
especulações
Esta frase pode ser uma indicação que este Professor X é o mesmo do final de DOFP, no futuro onde tudo deu certo e Xavier estava vivo e até tinha uma cadeira flutuante. Outra hipótese pode ser que este Xavier que apareceu em Dr. Estranho seja a da versão do desenho animado dos anos 90, quando o personagem está a beira da morte e é levado ao espaço para se recuperar e ninguém mais sabe o que aconteceu depois disso. O que chama atenção é a cor da cadeira, do terno e até mesmo a gravata ser idêntica ao do personagem no desenho animado.
Talvez a nova animação X-Men 97 que chegará no Disney+ ano que vem possa responder essa pergunta, já que provavelmente vai se inserir no grande multiverso do MCU tal como foi com a animação What If.
A “batalha” contra Wanda
Charles usa seus poderes para mostrar a Dr. Estranho o que aconteceu no passado em que tiveram que matar uma de suas variantes e novamente para entrar na mente de Wanda e impedí-la de matar America Chavez. O momento é incrível, eles se encontram em uma sala totalmente branca e alguns escombros onde a Wanda (do bem) está presa, ele tenta resgatá-la mas o “caos” da Feiticeira Escarlate em posse do Darkhold não permite que ela se sobressaia, nem mesmo ele consegue ajudá-la, e acaba morrendo nas mãos dela, que quebra o seu pescoço.
Por mais que seja difícil de acreditar que Xavier seria morto tão facilmente, ao menos tivemos o prazer de ver Patrick Stewart dando vida mais uma vez ao personagem após 22 anos desde sua primeira aparição em X-Men: O filme, lançado em julho de 2000.
Considerações Finais
O filme entrega o que prometeu: um filme de terror explorando o multiverso, com algumas participações especiais e cenas de ação magníficas de tirar o fôlego. A direção de Sam Raimi traz uma novidade extremamente necessária para o MCU e abre as portas para que outros filmes como esse surjam. Isso, junto do roteiro que é muito bom, somado a uma trilha sonora pontual e bem colocada, faz do filme um bom entretenimento.
No entanto, o longa peca em circular novamente na jornada de redenção da Wanda, tal como foi em WandaVision. Há também problemas de facilitação de roteiro e o desenvolvimento dos poderes de América Chavez não é tão bem trabalhado. Embora a presença dos Illuminati cause nostalgia e euforia a princípio, eles são mal aproveitados, de modo que até mesmo suas mortes falhem em causar impacto emocional.
Assim, é possível dizer que Doutor Estranho no Multiverso da Loucura atendeu as expectativas, mas infelizmente não as superou. Ainda assim, é excelente ver a Marvel Studios fugir de sua fórmula habitual. Afinal, eles precisam preparar o terreno para os X-Men, que estão longe de ter temas rasos e superficiais. Após Pantera Negra, Eternos, Cavaleiro da Lua e Dr. Estranho no Multiverso da Loucura, fica cada vez mais claro que Kevin Feige está aos poucos preparando o telespectador para o que virá na próxima fase do MCU.
Você já assistiu a Doutor Estranho no Multiverso da Loucura? Diga o que achou dele nos comentários.