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XMEN20: Como X-Men O Filme influenciou a criação do MCU

O ano era 1997, Batman e Robin, filme dirigido por Joel Schumacher, chegava às telonas e era mal recebido pela crítica e pelo público. O fracasso foi tão grande que impactou toda a indústria do cinema, fazendo dos filmes de super-heróis um terreno infértil e assustador tanto para produtoras, quanto para atores e atrizes. Isso, pelo menos, até o lançamento de X-Men: O Filme.


Por isso, vamos dizer porque acreditamos que X-Men foi o longa metragem que pavimentou o caminho para os filmes de super heróis, não apenas do MCU, mas do gênero como um todo.

× Antes e depois do X
Batman e Robin

Hoje em dia é fácil se deparar com filmes de super-heróis sendo a maior bilheteria do ano. Vingadores: Ultimato (2019), inclusive, é a maior bilheteria de todos os tempos; 20 anos atrás, no entanto, essa não era a realidade. Embora os filmes de ação, como Jurassic Park, estivessem em alta, os filmes baseados em quadrinhos estavam defasados e não atingiam tanto sucesso. Spawn: O Soldado do Inferno e Blade, que eram filmes de nicho, não conseguiram se destacar tanto, e, em 1997, por exemplo, Batman e Robin não entrou nem no top 10 das maiores bilheterias, mesmo com o sucesso de Batman Eternamente 2 anos antes.

Em 2000, com roteiro de David Hayter e direção de Bryan Singer, X-Men: O Filme chegou aos cinemas, e trouxe com ele um mar de possibilidades. Com uma abordagem mais sóbria do que se estava acostumado na época, o primeiro longa dos mutantes trouxe assuntos sérios que ninguém pensava ver em uma adaptação de quadrinhos, e isso provavelmente foi essencial para o sucesso.


× A fantasia apenas como pano de fundo
Magneto na Polônia em 19444 em X-Men: O Filme

Embora fosse sim uma adaptação de um universo infantil, o longa trata de assuntos extremamente sérios, como politica, discriminação, preconceito e autoaceitação. Temos, sim, cenas de ação, lutas coreografadas, super poderes e frases clichês. Não se esperava no entanto que um filme de super-heróis trouxesse um campo de concentração na Polônia, em 1944, ou discussões filosóficas sobre o “diferente ser encarado como nocivo para determinados indivíduos“. Questões que foram retratadas de forma tão familiar ao que vivemos ainda hoje, que fizeram com que uma grande parcela de pessoas pertencentes à minorias, como negros e a população LGBTQIA+, por exemplo, se sentissem representadas de alguma forma nas telas.


× Roteiro que apenas parece simples
Magneto e Professor X jogando Xadrez em X-Men: O Filme

O enredo de X-Men: O Filme é bastante simples. A equipe precisa impedir o vilão Magneto de concluir o seu plano, que é tentar transformar toda uma cidade em mutantes, algo que pode matá-los. O roteiro, no entanto, dá toda uma complexidade para essa história, que faz com que grande parte dos personagens sejam interessantes.

Wolverine é o caos que é inserido na ordem de Ciclope, Tempestade e Jean Grey. Ao chegar no Insituto Xavier, o mutante questiona as ações dos heróis, indagando, inclusive, como é que eles sabiam que estavam do lado certo. Ao mesmo tempo, Logan cria uma relação paternal com a Vampira, personagem que representa os questionamentos de não-pertencimento do próprio expectador. Todos esses detalhes fazem com que o público se relacione com os personagens.


É importante lembrar quê, diferente de filmes como Vingadores ou Liga da Justiça, os X-Men não tinham um modelo para se inspirar. Os filmes de super-heróis que eram levados a sério, como Superman e Batman, apresentavam apenas o protagonista e no máximo um ajudante. Singer e Hayter precisaram desenvolver os 5 X-Men “formados”, Vampira, além do vilão principal, tudo isso em apenas 1 hora e 44 minutos.

O vilão inclusive foge completamente da dualidade a qual estávamos acostumados. Magneto não é apenas malvado porque sim, ele possui motivos para suas ações, e argumentos muito bem fundamentados. Um homem que viu de perto desde a infância a maldade dos “homo sapiens” direcionada tanto para com os mutantes, quanto para eles mesmos. Esse pensamento é um contraponto à visão mais utópica de Charles Xavier, que visa a boa convivência com os humanos comuns. Um paralelo que ressalta a dualidade de inspiração dos personagens, se comparada a Malcom X e Martin Luther King.


× A divisão de personagens

O debate sobre o machismo é secular, mas somente agora as reclamações parecem surtir efeitos na indústria cinematográfica. Por isso, não é de se surpreender que para as mulheres era reservado o local de donzela em perigo em grande parte dos filmes. X-Men, no entanto, fugiu dessa regra já em sua estreia. A equipe principal conta com dois homens e duas mulheres dividindo a mesma importância (embora não o mesmo espaço de tela). Jean Grey é mostrada como o braço direito de Xavier, uma mulher eloquente e militante em prol da causa mutante, debatendo com o Senador Kelly de forma equilibrada e diplomática. Além disso, Tempestade, Jean e Vampira não são tratadas de forma sexualizada, nem são diminuídas pelo roteiro. Os próprios vilões, inclusive, as tratam como ameaças e entram em luta corporal com Tempestade, que acaba vencendo as duas batalhas a qual se engaja.

Do lado dos vilões temos apenas uma única mulher, uma personagem que anda completamente nua, algo que tinha tudo para se transformar em um show de sexualização, mas isso não acontece. Mística é apresentada como alguém segura, uma exímia artista marcial, eficiente no que se propõe e extremamente marcante. Nuances das ações dela também são apresentadas quando ela e Groxo vão sequestrar o Senador Kelly.

Pessoas como você são a razão para eu ter medo de ir para a escola quando era uma criança

Mística em diálogo com o Senador Kelly, X-Men: O Filme (2000)

× Os uniformes

Neste momento, você talvez esteja pensando que eu enlouqueci, já que os uniformes pretos de couro talvez sejam um dos maiores tormentos dos fãs dos mutantes. Nos anos 2000, porém, a história era outra. Após todo o carnaval dos uniformes de Batman e Robin e seus “batmamilos”, uniformes coloridos fariam a crítica e o público em geral se afastar do filme. Vale ressaltar que Matrix, lançado em 1999, foi um extremo sucesso de crítica e público, fator esse definitivo para que Singer e sua produção se inspirassem nas vestimentas de Neo e seus parceiros. Além de toda a temática dark de Blade não só na paleta de cores como também nos uniformes da franquia.

Uma prova de que os uniformes pretos foram extremamente bem aceitos, é que a fase dos quadrinhos “Novos X-Men”, comandada por Grant Morrisson, lançada 2 anos após o inicio da produção dos filmes, trouxe X-Men mais sóbrios, trajando uniformes pretos.


× Orçamento baixo, mas grande sucesso

Como mencionado anteriormente, no fim dos anos 90 os filmes de super-heróis não estavam em alta. Bryan Singer teve a missão de fazer um filme inteiro com apenas 75 milhões de dólares. Pode parecer um valor alto, mas Batman Eternamente e Batman e Robin tiveram um orçamento de 100 e 125 milhões de dólares, respectivamente. O filme mais barato do Universo Cinematográfico da Marvel (Homem-Formiga) custou cerca de 130 milhões de dólares. O mais caro, por outro lado (Vingadores: Ultimato), custou mais de 355 milhões aos cofres da Disney. Com essa comparação, talvez seja possível ter uma ideia do quão difícil era a tarefa da equipe de produção do filme dos mutantes.

Ainda assim, X-Men conseguiu entrar para o top 10 das maiores bilheterias mundiais daquele ano. Ficando em nono lugar, o longa atingiu mais de 296 milhões de dólares, um valor, inclusive, superior ao segundo filme do Batman de Tim Burton (Batman: O Retorno), que fez cerca de 282 milhões de dólares. O filme contou com efeitos bastante decentes para a época, e o ponto alto foi a maquiagem, que até hoje cria inspiração para diversos personagens. É um pouco triste parar para pensar que o longa tem uma bilheteria maior que X-Men: Fênix Negra, que só conseguiu arrecadar 250 milhões de dólares.


× Uma aposta arriscada

Diversos atores recusaram estar no filme por priorizarem outros trabalhos. Um exemplo é a atriz Angela Basset, que foi convidada para interpretar a mutante Tempestade, mas recusou por não acreditar no projeto. Isso mostra que o filme também foi uma jogada arriscada para o elenco, mas felizmente deu certo.

Com um orçamento de 75 milhões de dólares, arrecadando praticamente 4 vezes mais essa quantia, sendo também um sucesso de crítica, X-Men: O Filme apresentou para muitas pessoas atores que hoje em dia são extremamente famosos e queridos pelo público, como Hugh Jackman e Halle Berry, e até mesmo atores já famosos, como Patrick Stewart e Ian McKellen se beneficiaram do sucesso. O filme também modificou para sempre a estrutura de diversos personagens nos quadrinhos, seus acertos foram memoráveis, seus erros ensinaram quais caminhos não seguir, por isso (junto com Homem Aranha de Sam Raimi, lançado em 2002) pavimentou o caminho para a vinda dos futuros filmes de heróis como Hulk (2003), Batman Begins (2005) e até mesmo Homem de Ferro (2008), que deu início aos Vingadores e ao MCU. É um filme que lembraremos sempre com carinho, infelizmente o mesmo não pode ser dito sobre o diretor, afinal, Bryan Singer foi gravemente acusado de assédio e abuso sexual contra menores de idade.


O que você acha do filme? Quando assistiu pela primeira vez? Diga nos comentários.