Saiba como surgiram os X-Men que você conhece hoje!
No começo dos anos 1970 o título dos heróis mutantes X-Men estava para ser descontinuado devido às baixas vendas. Assim, a Marvel Comics liberou a dupla de criadores Roy Thomas (roteirista) e Neal Adams (desenhista) para realizar outros projetos. Todavia, quando os primeiros relatórios da distribuidora chegaram à editora, perceberam que a revista estava, mais uma vez, agradando os leitores. Thomas e Adams haviam imprimido novo fôlego aos personagens criados em 1963 por Stan Lee e Jack Kirby, tornando-os mais uma vez interessantes.
Como não havia jeito de reunir de novo os autores em X-Men, pois agora cuidavam das séries dos Vingadores e dos Inumanos (em Amazing Adventures), o jeito foi continuar a publicar o título reprisando histórias antigas a partir do n° 67. E a série permaneceu dessa maneira até a metade da década. Os X-Men passaram a atuar como coadjuvantes e/ou convidados especiais em outras revistas como Marvel Team-Up, Hulk, Amazing Spider-Man, Defenders e, um deles, o Fera, ao menos, estrelou série própria na revista Amazing Adventures, entre as edições 11 e 17, e sofreu mais uma mutação, virando, de fato uma fera (de pelos azuis), ingressando, então, na equipe dos Vingadores.
Surge o Wolverine
Em 1972, Stan Lee foi promovido a Publisher pela diretoria da Marvel, e Roy Thomas assumiu a posição de Editor-Chefe, numa sucessão que pareceu bem natural à época, devido à proximidade e amizade entre os dois profissionais. Ninguém melhor que Thomas para substituir o famoso “The Man” na Casa das Idéias, afinal, ele conhecia muito bem todos os personagens e o andamento da empresa, e trabalhara em parceria com vários de seus colaboradores freelancer. Mas não foi bem assim que aconteceu. Thomas não estava confortável nessa nova posição burocrática e sentia falta de criar histórias e persona-gens.
“Eu senti que estava perdendo tempo demais com coisas que eu realmente odiava fazer!”
Thomas ficou pouco tempo no cargo, passando o “abacaxi” para Len Wein no final de 1974.
Entretanto, antes disso acontecer, o editor lembra de uma conversa que teve com Wein durante um almoço:
“Nós falamos sobre criar um personagem canadense, pois nossas revistas vendiam muito naquele país. Eu achei que ‘Wolverine’ era um bom nome e queria que ele fosse um sujeitinho briguento. A partir daí, deixei por conta de Len.”
De fato, Wein introduziu o tal Wolverine na última página da revista The Incredible Hulk #180 (outubro de 1974) – apresentando-o como a secreta “Arma X” do governo do Canadá. Wolverine era ágil, feroz, tinha fator de cura (que o sarava rapidamente de qualquer ferimento) e possuía três garras afiadas de Adamantium – o metal mais duro do mundo, só existente no Universo Marvel – em cada uma das mãos.
O uniforme amarelo original foi concebido pelo diretor de arte John Romita e desenhado no gibi por Herb Trimpe.
“Quando te dão um nome como ‘Wolverine’ o que você faz é pesquisar. Wolverine é um animal pequeno, fedorento e com garras. O que o tornou um herói, foi que, apesar de ser capaz de estripar um inimigo, ainda assim, ele conseguia se controlar.”
Foi o que comentou Wein a respeito da personalidade selvagem do baixinho invocado. Adiante, Wein atribuiu às habilidades do herói uma herança mutante, já que ele e Thomas estavam pensando em reavivar a série dos X-Men e utilizá-lo como um dos novos membros. Novos?
Uma Equipe Apátrida
Ainda em 1974, Roy Thomas e Stan Lee atenderam a uma convocação do Presidente da Marvel, Al Landau, que – apesar de indicado pela Cadence Industries -, não tinha nenhuma experiência editorial, e por isso precisava aconselhar-se com os dois. Landau encabeçava o Trans World Features Syndicate, uma organização que licenciava quadrinhos americanos para o resto do mundo, e achou que a Marvel poderia se aproveitar disso e criar uma série com personagens oriundos de diversos países para, assim, realizar grandes vendas. De imediato, Thomas lembrou da série Blackhawk (no Brasil, “Falcões Negros”), da extinta editora Quality. Uma esquadrilha de aviadores criada por Will Eisner e Chuck Cuidera, onde cada membro era de uma etnia diferente. A sugestão de Thomas era aplicar o conceito num revitalizado grupo de X-Men.
Proposta aceita, o editor mais uma vez passou as diretrizes a Len Wein e ao desenhista Dave Cockrum, para logo em seguida, resignar do cargo de editor-chefe em favor de Wein. Foi de Thomas, por exemplo, a idéia de manter um ou dois personagens do grupo original (no caso, Ciclope e o Professor X), como recrutadores de novos membros para a equipe. Por ironia, Wein não levou em conta a principal ordem da editora: a de se criar personagens oriundos de países onde as vendas da Marvel fossem maiores. Caso contrário, heróis como Colossus (da Rússia), e Tempestade (do Quênia) jamais veriam a luz do dia:
“O aspecto mercadológico não me interessava. Dave Cockrum e eu apenas queríamos uma combinação interessante… alguém daqui, outro dali.”
Wein, ao lembrar do processo de criação dos Novos X-Men. Pode ser que o editor quisesse valer sua nova posição de comando ou então, estivesse influenciado pelos diversos conceitos visuais propostos por Cockrum – famoso pela facilidade em criar uniformes, principalmente as remodelagens que empregou no grupo teen da Legião dos Super-Heróis, da DC Comics – conforme confidenciou certa feita:
“Dave tinha um caderno com dezenas de personagens desenhados por ele que, esperava um dia, poder utilizar… Nós misturamos os uniformes e os poderes, e chegamos a um grupo coeso.”
A dupla veio com Noturno, uma aberração originária da Alemanha com poder de teletransporte; Wolverine, do Canadá; Pássaro Trovejante, um superíndio Apache; os já comentados Colossus (um jovem com pele de aço) e Tempestade, capaz de controlar o clima; além de dois ex-inimigos: Banshee, o gritador escocês; e Solaris, proveniente do Japão. A primeira missão dos novos mutantes se deu em Giant-Size X-Men #1 (maio de 1975) e foi um sucesso instantâneo, encorajando a editora a criar histórias inéditas para os Novos X-Men a partir da edição 94 do gibi de linha (agosto de 1975). Como Wein também escrevia o gibi do Incrível Hulk e suas funções como editor-chefe tomavam muito de seu tempo, “passou a bola” dos X-Men para seu assistente Chris Claremont: “Eu tive de abrir mão de um dos títulos… e como o Hulk sempre foi meu personagem Marvel preferido…” -Wein e Claremont ainda co-planejaram as edições 94 e 95 da revista e, a partir de X-Men #96 (dezembro de 1975), Claremont passou a comandar – por um bom tempo – sozinho as diretrizes da grandiosa saga mutante que estava nascendo.
O “Senhor X”
Chris Claremont tinha uma veia dramática bem apurada, com certeza, devido à sua aptidão artística para o Teatro – no qual queria ingressar após um pequeno estágio na Marvel, onde estava apenas para “… ganhar um pouco de dinheiro e pagar as contas.” Enfim, jamais saberemos se o mundo do Teatro perdeu ou não um grande ator, mas com certeza o universo das Histórias em Quadrinhos ganhou um de seus criadores mais ilustres e famosos.
Claremont escreveu as aventuras dos Novos X-Men ininterruptamente por cerca de 17 anos, transformando a revista no maior sucesso comercial das décadas de 1980 e 1990, o que o fez receber o carinhoso apelido de “Senhor X”. Ou conforme as próprias palavras de Jim Shooter:
“Chris era grande! Nós brigávamos feitos cães e gatos e, tenho certeza, ele me odeia. Mas eu tenho de reconhecer… foi ele quem construiu a franchise X-Men!”
Claremont não havia lido as histórias originais dos X-Men feitas por Stan Lee e Jack Kirby nos anos 1960, mas conhecia muito bem o que a dupla fizera no gibi do Quarteto Fantástico, especialmente na fase em que surgiram Galactus, o Devorador de Mundos, e seu melancólico arauto, o Surfista Prateado. Era isso o que Claremont queria fazer com os X-Men: uma grande e complexa família de jovens problemáticos vivendo aventuras emocionantes que resgatassem o clima apoteótico-cósmico da série do Quarteto de Lee e Kirby.
Para isso dar certo, Claremont e Cockrum mexeram em alguns conceitos pressupostos por Len Wein, como o de tornar Wolverine um sujeito mais velho, experiente e com um passado obscuro, afastan-do-o da figura jovial com ar de “rebelde sem causa” idealizada por Wein. Por outro lado, Noturno, que era para ser um sujeito amargo e atormentado, foi redefinido como uma personalidade espirituosa e de bem com sua aparência monstruosa. Logo na edição 94, Solaris sai da equipe e volta para o Japão. Na edição seguinte, a primeira baixa: Pássaro Trovejante morre durante um combate com o vilão Conde Nefária, mostrando que nas aventuras desses Novos X-Men as coisas poderiam ser bem mais pesadas. Entre as edições 100 e 101 (agosto e outubro de 1976, respectivamente) a ex-integrante Jean Grey, namorada de Ciclope, transforma-se na poderosa Fênix, após um acidente no espaço, e volta aos quadros da equipe.
E se o grande número de personagens obrigava o autor a trabalhar as personalidades dos mesmos de um modo mais lento que, por exemplo, Stan Lee em séries como as de Quarteto Fantástico e Homem-Aranha – onde desde o princípio já se era possível identificar as características dos heróis -, por outro lado, as caracterizações intrínsecas dos X-Men agradavam e divertiam os leitores, gerando uma compulsão generalizada de se comprar todos os meses o título:
“O truque com os X-Men era que você não conseguiria ler apenas um número. Sempre tinha alguma coisa interessante que o fazia desejar comprar a edição seguinte!”
Argumentou Claremont, com satisfação.
Fonte: SoQuadrinhos