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CRÍTICA (SPOILERS) – Pantera Negra: Wakanda Para Sempre guia o espectador em uma jornada de luto

A tarefa de fazer uma continuação de filme como Pantera Negra (2018) não é fácil. O incontestável impacto cultural e a aclamação que o longa recebeu foi um feito único, causando uma mudança considerável no status quo de Hollywood. Ficou claro que as pessoas estavam interessadas em assistir filmes de personagens não-brancos e isso deu um sinal verde para muitas produções saírem do papel.


No centro disso tudo estava Chadwick Boseman, que virou o rosto de um movimento maior que ele próprio. Com uma presença e imponência inquestionáveis, o ator encaixou perfeitamente no papel de T’Challa, rei da nação de Wakanda e detentor do manto do Pantera Negra. Superando as expectativas, Boseman só precisou de um filme solo para cravar seu nome no personagem.

O ator ficou tão presente na cultura pop, que foi praticamente impossível aceitar seu falecimento em 2020. Como era possível um ícone desse tamanho nos deixar tão cedo!? É com essa sensação de vazio que Pantera Negra: Wakanda Forever começa sua história.

⊗ ELENCO FEMININO E NAMOR
CRÍTICA (SPOILERS) - Pantera Negra: Wakanda Para Sempre guia o espectador em uma jornada de luto

Shuri (Letitia Wright) assume o protagonismo e somos guiados na jornada de luto da personagem após a morte de T’Challa, que não sofreu recast. A decisão deixou alguns fãs divididos, já que T’Challa é um personagem muito importante nas histórias da Marvel e Letitia tinha um papel de alívio cômico nos filmes anteriores. Será que ela seguraria o protagonismo em um filme desse tamanho e de tamanha importância!? Sim, ela segurou. Shuri não muda drasticamente, mas vai aos poucos conhecendo o peso da perda e da responsabilidade enquanto Letitia oferece uma atuação primorosa, bem rara de se ver em filmes de super-heróis.

Aliás, todo o elenco está muito bem aqui e é um belo prazer ver isso em um filme quase que inteiramente formado por mulheres pretas. Angela Bassett bilha como Rainha Ramonda em uma performance digna de aplausos e muitos prêmios. Enquanto Shuri se sente perdida em seu papel de sucessora do trono, Ramonda luta para proteger a nação de invasores e com poucos segundos de tela, Bassett nos entrega cenas extremamente poderosas.

Danai Gurira e Lupita Nyong’o também não passam despercebidas como Okoye e Nakia. As atrizes conseguem passar um carisma enorme nas cenas de humor e ação, mas transitam naturalmente para as cenas mais dramáticas. Dominique Thorne, a Riri Williams/Coração de Ferro, fica encarregada em ser o alívio cômico e os “olhos” do público, e acaba surpreendendo com seu carisma natural e humor mais afiado. O elo mais fraco fica com Winston Duke, o M’Baku, que serve mais como um personagem para a ação. Michaela Coel, que interpreta Aneka e era escolha de muitos fãs para interpretar a Tempestade, também não tem muito tempo de tela para demonstrar seu potencial e acaba ficando de escanteio no filme.

É indiscutivelmente um filme dominado pelo elenco feminino de Wakanda, de forma que outros personagens acabam sendo um pouco ofuscados. Existe apenas uma exceção para esse fato: Tenoch Huerta como Namor. Com uma presença ameaçadora, fica obvia a razão de Tenoch ter sido escolhido para o papel. O ator mexicano domina a tela quando está em cena e dá um antagonista muito digno para o filme. O Namor das HQs continua ali, mesmo com as mudanças de background. Se autointitulando como um mutante, Namor abre mais uma porta para chegada dos X-Men.


⊗ DIREÇÃO, ROTEIRO E HOMENAGEM A CHADWICK

CRÍTICA (SPOILERS) - Pantera Negra: Wakanda Para Sempre guia o espectador em uma jornada de luto

Com um elenco poderoso desses, o diretor Ryan Coogler só deixa o longa mais completo com cenas extremamente emocionantes e belíssimas. Coogler definitivamente conhecia o potencial que tinha em mãos e isso fica evidente nas cenas mais dramáticas. O roteiro, coescrito pelo próprio diretor com Joe Robert Cole, é certeiro ao dar espaço para os personagens demonstrarem suas fraquezas e dores, mesmo com algumas facilitações pelo caminho. Em certos momentos, é escancarado que é um filme que vai gerar mais impacto em pessoas de cor e isso é um grande acerto. Piadas com relação ao cuidado que mulheres pretas retintas têm para não ficarem com o rosto acinzentado ao se maquiarem são colocadas de um jeito muito natural, assim como as críticas para inclinação imperialista dos Estados Unidos.


E com todos esses acertos, o maior triunfo do filme ainda fica por conta de ser uma homenagem tão leve para Chadwick Boseman. Seja com suas cenas no logo de abertura da Marvel Studios, nas memórias de Shuri ou na mensagem final de agradecimento ao ator ao som da poderosa faixa ‘Lift Me Up’ de Rihanna. Somos constantemente lembrados que Chadwick era uma figura radiante e ele sempre estará conosco em nossas melhores lembranças e no seu inquestionável legado.

Pantera Negra: Wakanda Forever não supera seu antecessor, mas entrega uma mensagem poderosa e sincera sobre como aqueles que se foram ainda nos geram conforto e proteção.